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Tatiana Zylberberg

ATENÇÃO PASSAGEIROS!

Atualizado: 5 de jun. de 2020

Aeroporto. Embarque. Voo.


Não importa o destino, quem já viajou de avião, vivenciou um momento “obrigatório” antes da decolagem: a apresentação dos procedimentos de segurança. Este momento sempre me instigou. Depois que todas as pessoas acomodam suas bagagens, a aeromoça ou o comissário de bordo pedem atenção para a apresentação dos procedimentos de segurança e as orientações de como agir em caso de acidente. Em algumas empresas áreas, ao mesmo tempo em que demonstram os procedimentos, pode-se acompanhar uma gravação em áudio ou vídeo. No bolso do assento que fica à frente de cada poltrona existe um folheto com desenhos ilustrativos, para ser lido atentamente antes da decolagem. Tudo pensado nos detalhes para que, em caso de acidente, a gente saiba como agir.


As explicações são mais ou menos assim:


“Atenção passageiros! No avião existem oito saídas de emergência devidamente assinaladas, duas na parte traseira, quatro nas janelas sobre as asas e duas portas dianteiras. Em caso de emergência, automaticamente cairá sobre você uma máscara de oxigênio, coloque-a sobre o nariz e a boca, ajustando o elástico em volta da cabeça e respire tranquilamente. Coloque primeiro em você e somente depois ajude outra pessoa. Há um colete salva-vidas embaixo do assento, ajuste-o e sopre para enchê-lo, mas só após abandonar a aeronave. Se for preciso evacuar a aeronave, basta seguir as luzes de emergência. Para abrir as portas, basta empurrar a alavanca para cima”.


Será que no momento de alto risco todos lembram exatamente o que fazer, apenas por terem ouvido e visto uma sequência de procedimentos de segurança? Os procedimentos foram aprendidos ou, apenas ensinados, isto é, apenas comunicados?


E se antes de embarcar, todos os passageiros fossem "avaliados" sobre domínio das instruções ou na demonstração os procedimentos, seriam aprovados no “teste”? Basta atenção? E os aspectos emocionais? E quem viaja de avião pela primeira vez? Não há de se considerar outros fatores envolvidos? E o nervosismo intenso? Aprendemos quando estamos distraídos? Algumas pessoas voaram muitas vezes, portanto, ouviram/viram a mesma informação, estas talvez possam quase que declamá-las, mas isso não significa que conseguirão executar.


Quanto da nossa educação formal se assemelha com a ideia de que “basta instrução, para que haja aprendizagem”? De que basta atenção para que haja aprendizagem? Quantos professores ainda focam prioritariamente a sua atuação no ensino, sem considerar as potencialidades de aprendizagem dos estudantes? Aulas instrutivas, aulas expositivas e falas explicadoras. Algumas vezes estes professores sequer repetem, caso os estudantes não compreendam. Outros professores repetem do mesmo jeito, com a mesma linguagem, “apenas” num tom de voz mais alto, como se o estudante tivesse obrigação de aprender de imediato porque é capaz de escutar. Não podemos continuar instruindo com dados como se agir em situações de crise fosse “simplesmente” reproduzir comandos. Não podemos seguir ensinando conteúdos como se fossem instruções de segurança em voos.


Ainda escuto meus estudantes lamentarem terem aulas nas quais não se sentem “gente”. Não se sentem importantes, não se sentem contemplados, não percebem a preocupação dos professores em relação ao fato de estarem aprendendo ou não. É como se eles tivessem que simplesmente absorver o que é dito, somente porque foi dito. Absorver uma longa sequência de slides sem espaço para diálogo ou para perguntas. Estes estudantes geralmente incorporam um medo profundo de perguntar, porque incorporam quase que simultaneamente, um medo enorme de errar.


Cumpre-se, a cada voo, a norma de anunciar os procedimentos de segurança sem sequer conferir se as pessoas entenderam. Isso talvez ocorra porque acidentes aéreos não acontecem a toda hora e não existe uma preocupação concreta de que as pessoas realmente tenham aprendido. Entretanto, nas salas da aula, “acidentes” são mais constantes e muito graves, às vezes tão silenciosos que alguns professores nem notam que o “estado de alerta” estava instaurado. É muito provável que alguns estudantes estejam fugindo destas salas pelas saídas de emergência.


As pessoas precisam aprender e não apenas serem (supostamente) ensinadas. E para quem aceita voar pelas esferas da Educação, há que se (re)avaliar sobre “como” proceder.


Tatiana Passos Zylberberg

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