Numa rotina veloz e estranha, vemos o tempo escapar, enquanto seguimos demasiadamente ocupados com uma lista de coisas que nunca terminam. Parece que aquelas que deveriam importar mais, estão soltas num limbo nebuloso… vão sempre ficando para um depois que nunca chega. Pelo menos é isso que sinto no meu corpo, quando vejo que algumas demandas, seguem a esperar que eu diga NÃO, para todas as outras formas traiçoeiras de ocupar o meu dia. Ocorre-me compreender que eu posso escolher inverter a ordem do que me ocupa, pelo menos, posso criar espaços (cada vez maiores) para dedicar-me àquelas tarefas que me preenchem de forma intensa e entregar-me, enfim, ao que mais importa. Talvez seja pertinente, alcançar – ANTES, a clareza pelo o que realmente “mais importa” na minha passagem pelo mundo.
Quando termina a semana, fico a pensar no que fiz ou deixei de fazer. Hoje não dancei. Ontem não dormi. Hoje não vi o sol nascer, nem descer no horizonte. Para o amanhã, alguns milagres aguardam que eu siga na esperança de que eles se realizem. Um instante! Eu vi um certo rosa escuro colorir o azul do céu no momento em que subi as escadas da universidade. Eu conheci pessoas novas que me instigaram a descobrir outras geografias. Eu acompanhei um estudante entendendo bem os significados de um texto que antes não fazia sentido algum. Eu dancei por muitas músicas. Eu dei carona para alguém e mudei a otimização do tempo dele/dela. Eu recebi carona de alguém e senti menos medo nas ruas escuras. Eu fui a lugares novos. Eu ouvi uma música que me fez caminhar no deserto das mágoas ressecadas e eu pude sorrir diante delas, percebi com alegria: que ando agora, sem carregar mais, tantas marcas de dor e medo.
Quando revisito os dias que vivi, confirmo que muitas missões foram cumpridas. Celebro constantemente a escolha pela docência. Aprendi o inesperado neste percurso pelo mundo.
Estamos quase no final de um outro ano. Assusta-me pensar que 2015 praticamente já se foi. Ao mesmo tempo, alegra-me ver pulsar memórias concretas de desejos novos, antes tão distantes. Parece que tais memórias não cabem no tempo convencional, contado e exato. Eu consigo olhar para trás e ver que fiz acontecer possibilidades palpáveis. E isso não me fez mais alguém, do que ninguém. Por isso e, outras tantas razões, que posso andar descalça na areia sempre que preciso for. Aqui estou para tocar o chão do mundo com meu corpo.
Não há como explicar a infinitude de lições encarnadas, com vivacidade plena, das relações interpessoais com aquelas pessoas que estão no mundo para o bem comum. Incrível perceber que algumas delas estiveram comigo (frente a frente) somente uma vez. Bastou um leve contato para um horizonte inteiro se abrir. São pessoas que nos fazem “sentir” para que estamos no mundo. Não há necessidade de traduzir isso em palavras claras, talvez nem possível seja. Falo de um plano de contato humano que transcende qualquer controle racional.
E você? O que está fazendo no mundo?
Tatiana Passos Zylberberg
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